segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Em que sotaque se vai festejar este ano?

A actualidade do dito futebol português é uma autêntica vergonha. Até agora, os principais candidatos ao título contrataram 20 sul-americanos (SCP - 9; SLB - 6; FCP - 5), já excluindo os que chegaram e seguiram para empréstimo ou os que estiveram emprestados durante a última época. Aos quais se juntam outros 14 estrangeiros e sobrando espaço para, imagine-se, dois portugueses. Apenas o Benfica foi capaz de contratar lusos neste defeso, os guarda-redes Mika e Eduardo e os jovens Nuno Coelho e André Almeida, que de imediato emprestou.

Safaram-se 3 vice-campeões do Mundo, os benfiquistas Mika, Luís Martins e Nélson Oliveira. Até o Sporting, que revelou pérolas como Figo, Cristiano Ronaldo, Nani ou mais recentemente João Moutinho, Miguel Veloso, Rui Patrício ou André Santos, voltou a não incluir um jovem saído dos juniores, regressando André Martins, sem perspectivas de utilização. Mas sul-americanos são aos molhos e esta tendência preocupa-me, e deveria preocupar os máximos responsáveis pelo futebol neste país. Paulo Bento já manifestou o seu desagrado pela falta de opções em Portugal. Pudera, o Real Madrid e o Zenit jogam com mais portugueses que Benfica, Porto ou Sporting. Os encarnados já vão no segundo jogo consecutivo sem um jogador luso no onze. Coitado do seleccionador nacional, para escolher em Portugal tem de ir procurar ao Feirense ou ao Beira-Mar.

Depois do óptimo mundial realizado pelos miúdos portugueses, custa-me constatar que nos clubes grandes só há lugar para os 3 benfiquistas e os restantes voltaram a ser emprestados a clubes de segunda linha. Outros já andam nas órbitas de clubes estrangeiros. Sou a favor de emprestar, se isso beneficiar o jogador e o clube. O problema é ver que muitos dos jogadores emprestados nos últimos anos rodam neste momento na 2ª e na 3ª Divisão. Quando vejo mais um sul-americano de 18 ou 19 anos a caminho de Portugal, enquanto insistem em emprestar os jovens que saem da formação para nunca mais olhar para eles, sinto uma desilusão profunda. Se os jogadores que saem da formação não têm valor para a equipa principal, temos dois problemas: ou o campeonato de juniores é muito fraco e é preciso melhorar o nível da competição; ou as escolas de formação portuguesas são de fraco nível e os clubes devem investir nelas para assegurar o futuro da equipa sénior e o futuro económico. As academias devem formar jogadores que possam vir a representar o clube no futuro ou que possam representar um encaixe financeiro valioso na sua saída. Contudo, em Portugal formam-se jogadores para emprestar ao Pampilhosa ou ao Olivais e Moscavide e que irão terminar a carreira como capitães do Sabóia nas distritais. Os jovens que representam as selecções nacionais nos escalões juvenis não recebem qualquer apoio e acabam por se perder. Dos convocados para os sub-15 ou sub-17, a grande maioria nunca irá representar um clube da Primeira Liga e isso entristece-me. Se têm valor para ir à selecção, não têm valor para a Primeira Liga? Temos uma formação assim tão má em Portugal? Como querem que a selecção nacional AA apresente uma equipa para lutar pelas competições internacionais se os portugueses que têm cultura de selecção jogam no Alcabideche? Alguém deve ser responsável por essas convocatórias e pela falta de acompanhamento na carreira dos jovens.

Não acredito que os internacionais sub-20 franceses ou argentinos sejam melhores que os portugueses. Aliás, os pupilos de Ilídio Vale vieram provar isso mesmo.

Algo está mal, e ninguém parece importado. Se Gaitán era melhor que Nélson Oliveira aos 20 anos? Não era, mas o clube que o formou não tinha medo de o meter em campo e lucrou quase 10 milhões. O futebol português afunda-se com os negócios de gente que só pensa em dinheiro e pouco se preocupa com o futuro do futebol nacional. Já dizia Cédric Soares na chegada a Portugal, "espero que este Mundial sirva de «abreolhos»"... A solução para uma melhor selecção nacional AA ou uma Primeira Liga de nível mundial passa pela aposta nos escalões de formação. Fica o conselho.

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